O Nascimento da Vida

Ao ver este video,

Massive Attack - Teardrop
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penso em todas as fases por que passa um embrião humano até ao nascimento.

Primeiro apenas um aglomerado de células, indistintas.

Depois, progressivamente, as células ao multiplicarem-se começam-se a diferenciar.

Surgem os primeiros orgãos, os primeiros canais de um sistema que os liga a todos: veias e sistema nervoso.

Do sistema nervoso começa progressivamente a formar-se um aglomerado maior de células, estas transmitem os primeiros impulsos nervosos, começam a coordenar todos as outras células e orgãos, mas é ainda um sistema básico que apenas envia e recebe pequenos pedaços de informação quimica: regula os níveis de elementos nos vários subsistemas. Regula as batidas do coração. São os primeiros mecanismos reguladores do sistema complexo que se está a formar.

Ainda estamos longe da consciência, nem sequer o que chamamos pensamentos. Linguagens humanas ainda pura e simplesmente não existem

Depois lentamente as primeiras sensações de conforto e desprazer: talvez o quente ou frio, apesar da temperatura ser regulada pelo corpo da mãe. Talvez a falta ou excesso de nutrientes, essenciais ao desenvolvimento do embrião. Uma mãe incapaz de obter alimentos nesta fase, dará provavelmente os primeiros sentimentos de dor a esse embrião, o organismo “pedirá” esses nutrientes essenciais, o embrião poderá então sentir os primeiros sinais de dor, ou de prazer quando sente esses pedidos do organismo a serem satisfeitos. Mas pouco mais existe nessa altura.

Sempre progressivamente o cérebro vai-se desenvolvendo. Uma teia de milhões de neurónios ligados entre si começa a comunicar, a trocar informação por via quimica. Como uma árvore de natal muitas luzes acendem-se e apagam-se, estruturando os primeiros pensamentos, se é que o podemos chamar assim. Sensações apenas, indicações de como tudo está a correr, mas claro, sem palavras, sem linguagem.

Essencialmente o organismo está mergulhado numa doce piscina, o liquido amniótico, envolvido na placenta e ligado a um cordão umbilical que lhe fornece os nutrientes. A temperatura é estável (desde que a mãe não vá parar a nenhum incêndio). Desde que a mãe consiga encontrar alimentos, este organismo vai vivendo uma existência pacata, com pouco para fazer. Sente os saltos e trambolhões, começa também ele a experimentar o sistema muscular, mexendo-se e dando os primeiros pontapés.

Os olhos já se abrem, já funcionam, mas têm ainda pouco para ver. A luz que passa ligeiramente através da barriga da mãe e pouco mais. Os ouvidos ouvem ruídos, sons, música que a mãe possa estar a ouvir. O organismo está assim mergulhado num estado de doce apatia, mas onde os orgãos vão sendo testados.

E depois um dia, dá-se um dos acontecimentos mais traumáticos e violentos que organismo sentirá em toda a sua existência: Tantos os seus músculos como os da mãe começam a mexer-se, a mãe sente contracções. O organismo da mãe prepara-se para expulsar o novo ser vivo do seu interior. São momentos violentos, o ser é atirado para fora, puxado.

e sai! É o nascimento

Um momento particularmente violento, onde em instantes são feitas mudanças radicais: pulmões habituados durante tanto tempo a receber o oxigénio por via líquida, são obrigados a mudar subitamente o seu modo de funcionamento, começam a absorver oxigénio gasoso. O primeiro choro, a sensação de frio, de desprotecção.

A partir daí, e porque é um mamífero, o ser vai ainda depender fortemente da mãe, para o segurar nos braços, providenciar o necessitado alimento pelos seus seios. Rapidamente e de forma instintiva o novo ser vai buscar os seios maternos para lhe garantirem os nutrientes essenciais à  vida. Mas tanto como o alimento, o colo, a protecção maternas são essenciais ao desenvolvimento do novo ser vivo neste mundo, sem o colo materno qualquer bebé torna-se um ser gravemente irrequieto, agitado e descontrolado, carregado de ansiedade e incapaz de se desenvolver de forma saudável.

É o nascimento de uma vida humana, um momento maravilhoso, lindo, mas que para a personagem principal deste filme, é também um momento bastante violento.